Muito mais do que a época em que a cultura é colocada em evidência na maioria dos municípios nordestinos, o mês de junho representa, para a Paraíba, um período de movimentação econômica expressiva. Com as três principais festas com Parceria Público-Privada (PPP) – Campina Grande, Patos e Bananeiras – cerca de R$ 730 milhões devem ser injetados na economia paraibana apenas no mês de junho.
De acordo com os dados analisados pelo Núcleo de Dados da Rede Paraíba de Comunicação, Campina Grande lidera o ranking, com previsão de R$ 600 milhões circulando até o dia 30 de junho. Patos, no Sertão da Paraíba, vem em seguida, com uma média de R$ 80 milhões. A cidade de Bananeiras também apresenta uma circulação de valores milionários, com previsão de movimentar R$ 50 milhões no período junino.
Em Campina Grande são 33 dias de festa. Em Bananeiras, a festa cresceu: em 2024, são 10 dias de festa. E em Patos, São João bastante tradicional no Terreiro do Forró, serão 5 dias de shows.
O impacto cultural e econômico das festas de São João é inegável. A tradição ganha espaço cativo e, no mesmo ritmo, a geração de renda também aumenta.
A economista Karla Vanessa explica que o momento representa, também, um aumento no consumo.
Esse período tem um forte impacto nas economias locais, pensando na dinamização da economia. Tudo isso para além do setor hoteleiro, gastronômico, o mês de junho representa cerca de 30% do faturamento anual só em Campina Grande, por exemplo. É um período em que as cidades recebem muitos turistas”, destaca a economista.
São João com Parceria Público-Privada
As festas de Campina Grande, Patos e Bananeiras acontecem, hoje em dia, em um modelo de Parceria Público-Privada (PPP), combinando os recursos e esforços do setor público e do setor privado para organizar e realizar o evento.
Em Campina Grande, por exemplo, esse formato foi implementado em 2017. Antes disso, segundo a assessoria de comunicação da gestão atual, em alguns anos, pelo menos R$ 10 milhões eram investidos dos cofres públicos para a realização do evento.
Atualmente, ao invés do Município transferir recursos para a empresa responsável pela realização do São João de Campina Grande, a gestão ganha pela exploração da “marca” da festa. Dessa forma, a empresa gestora é responsável pela montagem, captação dos patrocínios e contratação de artistas, mas a prefeitura faz a gestão cultural do evento.
“[Com esse modelo] a gente perde um pouco a autonomia de realizar uma festa mais próxima do que a gente tinha nas tradições das cidades. Mas, se não fosse assim, todo recurso tinha que sair do poder público. Por outro lado, quando temos essa Parceria Público-Privada, a gente tem a condição de fazer sua festa maior, mais comercial”, detalha a economista Karla Vanessa.
Esse formato, que permite uma diminuição dos gastos públicos, favorece também o mercado de trabalho. Outros números analisados pelo Núcleo de Dados da Rede Paraíba de Comunicação indicam que a geração de empregos se eleva nesse período.
Patos lidera com a oferta de trabalho. São cerca de 5 mil empregos diretos e indiretos gerados durante o mês em que acontece a festa.
Em Campina Grande, somente em 2024, devem ser gerados quatro mil empregos diretos e indiretos.
Já em Bananeiras, no Brejo paraibano, são, pelo menos, 190 empregos diretos sendo gerados como agentes de limpeza, agentes de trânsito temporários e barraqueiros cadastrados. Além desses profissionais, ainda há um quantitativo expressivo de taxistas e mototaxistas durante esse período.
E são esses empregos que fazem a diferença na vida de tantos paraibanos. Rosângela Lopes trabalha como comerciante no Parque do Povo há quase 40 anos.
“Tudo começou através da minha avó, que começou vendendo a caipirinha dela, com o forró pé-de-serra mesmo. Foi modernizando, minhas tias também vieram, um tio, eu, que ainda estou por aqui. Hoje estou aqui, já tive filhos que foram criados dentro do Maior São João do Mundo. A gente sobrevive muito desse evento. Todo ano é uma expectativa muito grande”, descreve Rosângela que, atualmente, vende caldinhos, espetinhos e bebidas no Parque do Povo.
A renda gerada nos mais de 30 dias de evento faz total diferença no orçamento anual da família de Rosângela. E, para além disso, esses valores ajudam a construir e realizar sonhos, como o de formar o filho em Administração. “Tudo saiu um pouco daqui”, declara.
“Pra mim significa muito. Eu às vezes me emociono ao falar. A gente espera o ano todo. Nós que vivemos de salário mínimo, sempre temos sonhos para realizar, reforma de uma casa, um objeto que você tem que comprar, e isso tudo o evento nos traz. E nos faz concretizar. Porque é muita luta, não é fácil”, desabafa Rosângela Lopes.
Francinete Filgueira também tem a renda das vendas do período junino como um décimo terceiro.
“Faz 20 anos que estou aqui trabalhando. O que a gente ganha aqui é um extra, que você pode fazer coisas que você sonha. É como se fosse o nosso décimo terceiro”, declara.
Turismo impulsa a economia
Para que as festas juninas sejam um sucesso, a movimentação do setor turístico é outro ponto importante. Em Campina Grande, Bananeiras e Patos, a ocupação de hotéis chega a quase 100%, principalmente para o fim de semana de São João.
De acordo com Gustavo Paulo Neto, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Paraíba (ABIH-PB), “a movimentação financeira que traz os turistas que vêm aproveitar essas festividades é muito importante para a economia e toda uma cadeia produtiva, que envolve mais de 70 segmentos. Isso é muito importante porque gera emprego e renda. E movimenta toda essa cadeia produtiva aqui no turismo aqui do nosso estado”.
Mais turistas significa, também, mais consumo, mais vendas e mais dinheiro circulando em todo o estado.
Almir Fonseca e Rosimere Lima são cariocas e estão na Paraíba pela primeira vez para conhecer os festejos juninos.
“Estamos hospedados em um hotel aqui perto [do Parque do Povo]. Estamos encantados com a cidade. Esse look é da vila do artesão. Até agora, a experiência vem sendo maravilhosa”, contou Almir.
Gustavo Paulo Neto ressalta, ainda, que o período de São João é historicamente importante para a Paraíba.
“Esse período de festa junina é realmente um período de alta estação em todo o interior do estado da Paraíba. O São João é a data mais importante para essa parte do estado, onde se movimenta mesmo a economia. A gente costuma dizer que o São João é o Natal do interior”, afirmou.
Esse sentimento que pulsa mais forte no mês de junho impulsiona o estado o ano inteiro, seja na economia, seja na cultura, seja no desejo de todo paraibano de ser São João todo dia.